Quando o golpe militar foi instaurado, em 1964, as bases político-sociais estavam organizadas. Os movimentos estudantis e de trabalhadores, por exemplo, estavam engajados em entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a PUA (Pacto de Unidade e Ação). Mas com a ditadura essas entidades foram asfixiadas ou entraram na clandestinidade. No campo artístico, a Música Popular Brasileira ganhou destaque dando voz à nação. As canções começam a ser produzidas em forma de protesto e as letras continham mensagens de insatisfação com o regime militar que se viu então ameaçado. Não havia um critério específico para que uma música fosse censurada. Às vezes os versos eram modificados por completo, uma frase era substituída ou a música inteira era proibida. Com o AI-5, em 1968, a censura à arte institucionalizou-se. A Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) atuava tanto por motivos políticos como proteção à moral vigente. Um dos artistas mais perseguidos no período da ditadura foi o cantor e compositor Chico Buarque. Tanto que ele passou a utilizar o pseudônimo de Julinho da Adelaide para que suas canções pudessem ser ao menos avaliadas, já que muitas eram diretamente vetadas somente por conter seu nome na composição. Em 1973, a censura contra Chico Buarque atingiu todos os níveis. Sua peça "Calabar, ou o Elogio à traição" escrita em parceria com Ruy Guerra foi vetada. As consequências também atingiram seu álbum “Chico canta Calabar, o elogio da traição” daquele mesmo ano. A capa do disco trazia a palavra Calabar pichada em um muro.
Os censores concluíram que a capa seria uma agressão, o que resultou em sua proibição. Como alternativa, o álbum foi lançado com uma capa totalmente branca e sem título. O disco trazia canções da peça anteriormente vetada e, por isso, teve várias músicas que foram proibidas pela censura.
O álbum de capa branca foi um fracasso comercial e a gravadora decidiu recolher os álbuns e relançá-lo com uma nova capa, que desta vez trazia uma foto de Chico de perfil com o título "Chico canta.".
Também em 1973, Gal Costa teve censurada a capa do seu disco, "Índia", por conter a foto em close da cantora vestindo uma tanga. E na contracapa fotografia dela vestida de índia e com seios nus. A gravadora Philips comercializou o álbum coberto por um envelope opaco, de plástico azul.
Antes mesmo do AI-5 alguns representantes da MPB já eram vistos pelos militares como inimigos do regime e um deles foi Caetano Veloso. Em 1975, o álbum "Jóia" trazia na capa Caetano Veloso e sua então mulher com o filho, completamente nus, com o desenho de algumas pombas para cobrir-lhe a genitália. Censurado obviamente, o álbum foi relançado somente com as pombas na capa.
Postado por Cecília Escobar
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